(Droplet) neuro-dialectics (english|português)

Woods the Walls and Wells, Goseong Choi

While tinkering with some experimental forms in a poetic manuscript in Portuguese and listening to Henosis by Joep Beving (which is a terrific album for writing), I came across his track “Noumenon“, which involves a rather minimalist piano piece, some synthetic organ elements, and the voice of a man in the background with drowned speech that can’t, at any point, be understood. With that, I was inspired to try my hand at creating two rather hollow characters who, in between compositions, would hold disjointed conversations — some more sensible than others — which, in time, spun a willingness in me to dialogue with myself recurrently, often about nothing, often about everything, sometimes in extensive monologues and others in short, sharp sentences. I’m sure this is not unique nor is it particularly exceptional, but I’m quite enjoying the folly of it, so I felt compelled to share. The first, in form of a dense poetic-prose unified speech, and the other, a banter succeeding a somewhat disenchanted love-poem:

(Varieties of Ultramarine)

— I would have enjoyed playing in the Schönhausen palace, or have exulted a body with a pungent waltz collapsing over a soundscape, an imploded building; that is it, the profligacy, extensive, sharp disgraces, to be vulgar but stricken by an extreme energy to dive into the most profound aromas. It saddens me, you know? There are things… Well; the solar cycles of flesh, various shouts and lamentations, to have seen the physical aspects of this domain perish, await the rains, observe the age of birds, the spark of sylvan wings, the solitude and silence, and… Who knows? Not quite so much. Things aren’t as they are, they are something else entirely, that and that, but never this. Do you remember being as small as a bean?, receive the pillars of light supporting the hours, scour the fabric of everything only to find image, the paltry gleam of pearls, those scarab-green silks used by elderly women to obscure their haggard neck, they almost appeared to be moving birch trees!, and those ornaments, miscellaneous objects, superfluous events, ashtrays of glass or steel, calendars, the frightful villain of night and darkness, that today, at a loss of self, appears to us as an absolute white. All these small constituents, baubles of sort, dust prisons sustaining the vice of inner occupation, of imagining this and that and hold it close, take it as ours, all these things which are only ours, as only we notice them — no longer is there space for any of this. The plangency of remembrance…, my breast constricts once certain portals are crossed, it closes, colours drop like acids, my contact with the shiver of the earth is erased, I acquire a lightness able to capture the tail-flame of meteors; a reduction to atoms and waves, conclusion, gelation, agony, I abandon touch, matter labours to restore my gravity. See, I do not say this just because of longing, but for the very nature of volition; at times, I see myself as an apocryphal text, or one of those commonplace engravings, a nearby landscape: a withy in a gradient of death, rough-stones, a partially hidden poplar, an imperious crow, an imperative sky, and I cogitate under a snooze spun from my fear of disappointing dramatism, what is the peremptory truth which blooms from this weak reality? No, I do not search for the meaning of all, or of life, nor any of those fatuous borrowing pretensions; neither am I concerned with whys, or magnetised by the spiritual abuse of philosophies. I just wanted a place, a pallid place, a home within my own self, to sit beneath a veil of dense warmth, convene with my own humble purposes, feel the lemon-skin come near, cover my eyes, ears and nose so I could say, distant from myself yet impossibly near, that this is this, that is that. I want the shelter of certainty, of solidity, that through the years configured more and more intangible. Ah!, pathetic, who, in wholesome control of their faculties, would want such thing? Volatility permeates beauty, and all is as beautiful as it is perpetual; the metronome fuels the serfdom of Men to the expressions of change, and in which form can we exist if not this one? The sunset is not a promise, the substrate is not a promise, nothing promises, nothing promises, and I’m privy to what you may think, that is the tacit worth of everything simple; I agree, I’m merely tired… It is time to play on the Schönhausen palace. It has to be time. The trees of Iðunn shan’t bear more apples for me, and I’m tired.

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(lichen)

— Back in my land, it is said that love is the acquisition of shadows.
— We all love in a bellicose mutism of sorts.
— A hall of mirrors as an instrument of inner torture…

— Have you seen the spark of Spring, that distillation
of rays refracted in the atmosphere particles, the cough
of the peaceful mallards? That limpid green…
I thought love would be similar to that pure scenery.
— Our Springs were very short, at home. Time
was like a large iron anvil held by cambric strings,
as those one normally sees in childish cartoons.

— You never had anyone, I suppose.
— I didn’t think it possible.
— The true surprise, that
which throws you into the centrifugation of clouds
with distant outcrops, fragile white daisies,
is when someone truly likes you.
— If that is how you feel.
— Do you feel it differently?
— I don’t like myself…, you see? If by chance
anyone did, it wouldn’t be someone I could have liked,
I do not trust anyone that likes who I do not like.
— I understand.
— It isn’t hard.
— Not for me.

Woods the Walls and Wells, Goseong Choi

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Português

— Gostava de ter tocado no palácio de Schönhausen, de exultar um corpo numa valsa pungente quedando sobre uma construção de sons, um edifício implodido; é isso, a devassidão, vergonhas extensas e acutilantes, ser-se vulgar mas acometido duma energia extrema para mergulhar nos aromas mais profundos. Entristece-me, sabe? Há coisas… Pronto; os ciclos solares na carne, tessituras e lamentações várias, ver os materiais físicos deste domínio a colapsar, esperar pelas chuvas, observar a época dos pássaros, o rútilo das asas silvestres, da solidão e do silêncio, e… Quem sabe. Não tanto. As coisas não são como elas são, são outras e outras, aquilo e aquilo, mas nunca isto. Lembra-se de ser pequeno como um feijão?, receber os pilares de luz que sustentam as horas, perscrutar o tecido das coisas e encontrar apenas a imagem, o pequeno tilitar das pérolas, aquelas sedas verde-escaravelho que as transuentes mais velhas usavam para obscurar o pescoço gasto, chegavam a parecer grandes bétulas movediças!, e aqueles ornamentos, objectos vários, eventos supérfluos, cinzeiros de vidro ou aço, calendários, o terrível vilipêndio da noite e do escuro, que hoje, perdidos, é-nos quase como um branco absoluto. Todos estes pequenos elementos constituintes, frioleiras, prisões de pó sustentando o vício da ocupação interior, de imaginar isto e aquilo e tê-lo perto, tomá-lo por nosso, todos estes elementos só nossos, pois só nós damos conta deles — já não há espaço para nada disto. A plangência de rememorar…, o peito abstem-se quando se atravessam certos portais, fecha-se, as cores pingam como ácidos, o contacto com a tremor da terra cessa, adquirimos uma leveza que captura o fogo dos meteoros; a redução em átomos e ondas, conclusão, congelamento, agonia, parece que abandonamos o tacto, e a matéria labora para nos restaurar a gravidade. Veja, não digo isto apenas por saudade, mas a própria natureza da volição; por vezes, dou-me como um texto apócrifo, ou uma daquelas iluminuras comuns, uma paisagem próxima: ervas em gradientes de morte, pedras-toscas, um álamo parcialmente gravado, um corvo imperioso, um céu impreterível, e cogito na modorra que apenas tenho porque temo a desilusão da peça, qual será a verdade peremptória que floresce desta fraca realidade? Não, não procuro o significado das coisas, ou da vida, ou nenhuma dessas pretensões fátuas sensabor; tampouco me ocupo do porquê, nem sou magnetizado pela sevícia espiritual das filosofias; queria apenas um sítio, um espaço pálido, uma casa dentro de mim próprio, sentar-me sob um véu de calor denso, reunir-me dos meus propósitos humildes, sentir a pele de limão aproximar-se, cobrir-me os olhos, os ouvidos, o nariz, e poder dizer, longe de mim e no entanto impossivelmente perto, que isto é isto, que aquilo é aquilo. Quero o abrigo da certeza, da solidez, que ao passo dos anos se configurou mais e mais intangível. Ah!, patético, quem, em total controlo das suas faculdades, desejaria tal coisa? A volatilidade permeia a beleza, e tudo é belo por ser perpétuo, o metrómono abastesse a servidão do homem às expressões da mudança, e de que forma existir senão nessa? A poente não é uma promessa, o substrato não é uma promessa, nada promete, nada promete, e eu sei o que pensa, pensa que é esse o valor tácito das coisas mais simples; eu concordo, estou só cansado… É tempo de tocar no palácio de Schönhausen. Tem de ser tempo. As árvores de Iðunn já não me darão mais maçãs, e estou cansado.

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— Lá nas terras, dizia-se que amar é o exercicio de adquirir sombras.
— Todos amamos num mutismo bélico.
— Um corredor de espelhos como um instrumento de tortura interior.

— Já viu o encandeamento duma Primavera, aquela destilação
dos raios refractados nas particulas da atmosfera, o tossicar
lânguido dos patos-reais? Aquele verde límpido…
Eu achei que amar seria esse cenário puro.
— As Primaveras eram muito curtas, por lá. O tempo
parecia uma bigorna de ferro segura por fios de cambraia,
como se vê nos desenhos das crianças.

— Nunca teve ninguém, suponho.
— Acho que não teria sido possível.
— A verdadeira surpresa, aquela
que nos lança à centrifugação das nuvens
com aflorismos distantes, margaridas brancas,
é quando alguém gosta de nós.
— Se é isso que sente.
— Sentiu-o doutra forma?
— Não gosto de mim…, entende? Se porventura
alguém gostou, não seria alguém de quem poderia gostar,
não confio em ninguém que goste de quem eu não gosto.
— Entendo.
— Não é díficil.
— Não para mim.

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Thank you,
João-Maria.